Sono, vital para a vida

Dia 20 de junho alunos dos 8º e 9 º anos, além de professores da Rudolf Lanz participaram do programa ‘Ponta a Ponta’, veiculado aos sábados pela TV Tem (retransmissora da Rede Globo). O tema principal do programa era ‘Hábitos noturnos’ e nas entrevistas com os alunos, o apresentador Mateus Luz procurou saber se dormir mal (ou pouco) atrapalharia mesmo o desempenho escolar, já que boa parte dos adolescentes tem prejudicado a qualidade de seu sono, em parte por causa do excesso de tecnologia. A especialista em Medicina do Sono Helena Protetti confirmou no programa a importância do sono nesta fase de desenvolvimento, argumentando que até mesmo quando o aluno estuda a noite antes da prova terá seu desempenho alterado, pois o que ele estuda fica na chamada memória flutuante – que normalmente não é acessada na hora do teste.

Em qualquer nível – físico, emocional, intelectual, mental e até espiritual – o sono não é apenas importante. É primordial. Sem ele morreríamos rapidamente. Na Pedagogia Waldorf o sono tem inúmeras funções e tem um foco especial. Rudolf Steiner, criador da pedagogia, já em 1919 teria frisado aos professores que uma de suas tarefas era ensinar os alunos a dormir para que todo aprendizado não fosse comprometido.

Mas, para você que é pai ou mãe, é saber o básico: a importância física do sono (independente da idade). “A função biológica do sono é, entre outras, de reparar, regenerar, revigorar o organismo durante seu estado de vigília. Estar acordado significa gastar grande parte do sistema neuro sensorial, responsável pelo uso dos órgãos dos sentidos, por nos movermos e nos equilibrarmos enquanto acordados. Quanto mais usarmos nossa consciência com um pensar somente intelectual, materialista, calculista, mais desvitalizados ficaremos”, argumenta a terapeuta Pilar Tetilla Manzano Borba, pós-graduada em Antroposofia na Saúde, complementando: “Durante o sono o corpo das emoções e o Eu se separam do corpo vital e físico e ‘vão beber na fonte cósmica’ o ‘alimento espiritual’ que dependendo de como foi o trabalho do indivíduo durante sua vigília, será tanto mais profundo e maior quanto melhores foram suas ações, sentimentos e pensamentos. Dessa maneira o corpo astral e o Eu trarão para o dia seguinte ao acordarmos uma boa ‘provisão alimentar’ para mais um dia”.

“Sendo o Homem um ser dos dois mundos (do dia e da noite), é preciso que haja um equilíbrio entre as horas passadas em estado de vigília e as horas passadas em estado de sono e isso, depende da idade e da necessidade de cada indivíduo”, enfatiza.

Há um consenso entre especialistas e a pedagogia: é durante o sono que assimilamos todo aprendizado e até mesmo resolvemos possíveis problemas (da escola ou da vida). Ao estudarmos a fisiologia do sono identificamos dois pólos: o estágio do sono profundo e o sono REM (sono com sonhos); e há a passagem de um estágio para o outro. Há uma série de experimentos que mostram como o sono REM está relacionado diretamente com o aprendizado e consolidação da memória. No sono profundo ocorre a liberação do hormônio do crescimento (GH) o que mostra sua relação com o metabolismo. Por isso quando fazemos exercícios físicos, estimulamos o sono profundo. Ao aprender, ao adquirir novos conhecimentos, possibilitamos que o sono REM seja mais denso nas noites subsequentes.

“Dormir, em termos práticos, é parar de pensar. Se o pensamento não cessa, não dormimos. Um pensamento confuso, desordenado, que não se percebe a si próprio é causa de insônia.

Na pedagogia Waldorf se ensina a pensar concretamente, e consequentemente ‘ensina a dormir’.Uma criança ou adolescente que dorme mal fica agitado. Parece (mas, não é) que está cheio de energia. Na realidade está confuso e nem ouve o que os adultos falam (déficit de atenção). Vemos que uma criança ou adolescente que dorme mal está incomodado”, ressalta o pediatra antroposófico José Carlos Neves Machado. Segundo ele, a falta de um bom sono acaba por adoentar o jovem ou a criança. “Como a criança e o adolescente estão em desenvolvimento podem surgir consequências orgânicas devido à falta de sono ou do sono sem qualidade: queda da imunidade, a criança pega mais resfriados; como durante o sono noturno se libera o hormônio do crescimento a estatura pode ficar mais baixa do que o esperado”. Mas para o pediatra a consequência mais grave da privação de sono é a questão social. Machado lembra que Rudolf Steiner afirmara que o bom sono é decisivo para o bom relacionamento entre as pessoas. “Quando dormimos sonhamos; sonhamos com nossos ideais, com aquilo que queremos dispor para a humanidade.Durante o sono bebo da fonte, dos arquétipos – daquilo que me faz humano. Quando durmo e acordo refeito, sei do que se trata. Acordo “novo” para o novo dia”.

O médico concorda que os adolescentes são os que mais sofrem com a privação de sono; as horas passadas diante do computador ou do vídeo game impedem o sono restaurador. “Se não dormem bem, não acordam bem e aí o comportamento, a convivência fica praticamente impossível. Não vão bem na escola, se isolam, há problema com a auto estima. O comportamento agressivo ou irritadiço acaba se tornando a regra. O que poderia ser ânimo, disposição para a convivência com a comunidade (pais, familiares, amigos) se torna isolamento, preguiça, ou só fazer aquilo que é muito fácil, que não exige esforço nenhum.

Portanto, também a questão social, o relacionamento humano depende de uma boa noite de sono”.

Mas, afinal, o que os pais podem fazer para melhorar essa questão? O terapeuta tem inúmeras soluções práticas. “Cuidem dos horários. Vida é ritmo. Tudo o que é vivo tem ritmo. Organizem o dia. Horário para acordar e dormir; horário para as refeições; cuidar com a agenda muito apertada. Providencie um bom café da manhã com carboidratos complexos – alimentos integrais. Proteínas e gorduras também fazem parte. Evitem doces. Jantar leve; quem come muito a noite pode dormir mal e engordar. Que o acordar seja agradável; despertar um pouquinho antes; evitar atrasos. No dia a dia, estar sempre atrasado cria um condicionamento péssimo. Criem um ritual para o sono. Quanto mais simples e rápido melhor. Não esqueçam que uma massagem e uma boa história ajudam (principalmente as crianças). O que mais propicia o sono é escuro e silêncio; portanto, nada de TV, DVD, computador… Atividade física é muito importante; propiciem momentos de lazer. Criar situações que a criança possa brincar livremente. E ainda eu poderia aconselhar: vivam melhor, tenham uma vida mais saudável, etc. Mas, para encerrar lembro a vocês que educar é antes de tudo auto-educar-se”.